segunda-feira, 28 de dezembro de 2015


Antes...
Ainda existia Deus


Nesta Noite de Natal
Fria e sem Lua
Um pobre e desalojado casal
Batia ao portal da rua,
Não do abandonado tugúrio
Feito de doloroso murmúrio
E de mau augúrio,
Mas de edifício iluminado
Onde alegre festa acontecia:
O bebé era mimado
O menino Jesus sorria
E o adulto deglutia saborosa iguaria.
O pórtico não se abria
O estômago não encolhia
O vento apagou a candeia
A noite escura ficou feia
A fome aumentou com o frio...
Sem eira nem aquela beira
O casal não suportou o suplício
De uma vida, doloroso resquício;
Do bom, do belo, do reconfortante
Tão perto e tão funestamente distante
Que sucumbindo implorou
Ao Menino que se o portal abrisse
O alimento e o convívio dar quisesse
O seu amor eterno Lhe prometia;
Amor verdadeiro de verdadeiro ser
Que esta Noite na Terra o Céu via
Só um momento sobrava para ter
A felicidade de um interminável dia...
E acreditando que ainda aconteceria
No sono terno cairia...
Quando a festa terminou
O carro do Município passou
E seus corpos com lixo misturou.

AD

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